De entre todos, apenas vós 
tendes direito a ver-me 
fracassar. Onde caio 
entre a vossa irónica 
doçura implacável, convosco 
partilho o pão e o espaço 
e a rapidez dos olhos 
sobre o que fica (sempre) 
para dar ou dizer. 
E de vós me levanto 
e vos levo pesando 
e ardendo até onde 
me ajudais a ser 
melhor ou talvez 
menos só. 
Vítor Matos e Sá, in 'Companhia Violenta' 
Meus companheiros amados, 
não vos espero nem chamo: 
porque vou para outros lados. 
Mas é certo que vos amo. 
Nem sempre os que estão mais perto 
fazem melhor companhia. 
Mesmo com sol encoberto, 
todos sabem quando é dia. 
Pelo vosso campo imenso, 
vou cortando meus atalhos. 
Por vosso amor é que penso 
e me dou tantos trabalhos. 
Não condeneis, por enquanto, 
minha rebelde maneira. 
Para libertar-me tanto, 
fico vossa prisioneira. 
Por mais que longe pareça, 
ides na minha lembrança, 
ides na minha cabeça, 
valeis a minha Esperança. 
Cecília Meireles, in 'Poemas (1951)'
 
 
 
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